Grande Guerra – Portugal

Grande Guerra – Portugal

1914 – 1918

 

Grande Guerra – Ocupação Portuguesa da África Oriental Alemã

 

Brasão de Portugal

A Inglaterra, que mantinha desde há muito tempo uma aliança com Portugal, moveu influências para que o país não participasse activamente na Guerra e, inclusive antes do evento, chegou a prometer, abertamente, ceder as colónias portuguesas à Alemanha como moeda de troca ao não desenvolvimento alemão da sua frota naval e, assim, evitar a guerra.

Este facto levou Portugal a apoiar os aliados não assumindo, por receio de perda das colónias, a neutralidade no conflito que se avizinhava e, mais tarde, durante o próprio conflito.

O Partido Democrático, então no poder, movido também pelo facto de já existirem combates entre tropas portuguesas e alemãs junto às fronteiras das colónias em África, demonstrou, desde cedo, interesse em tornar-se parte beligerante do conflito.

Embarque de tropas portuguesas para Angola (1914/15)

Em Setembro de 1914 eram enviadas as primeiras tropas para África onde as esperariam uma série de derrotas perante os alemães, na fronteira do Sul de Angola com o Sudoeste Africano Alemão e na fronteira Norte de Moçambique com a África Oriental Alemã.

Apesar destes combates, a posição oficial do Estado português era claramente ambígua. Os partidos de cariz esquerdista estavam ao lado dos regimes da França e da Inglaterra, enquanto que os da direita simpatizavam com os regimes das potências centrais (Alemanha e Austro-Hungria). Porém, a questão que se colocava era se Portugal entraria na guerra ou não, já que a entrada do país na guerra seria sempre ao lado da Inglaterra e da França. O regime republicano decidiu optar por uma tomada de posição activa na guerra devido a várias razões:

Tropas portuguesas nas trincheiras da Flandres (1917/18)

  • Com vista à manutenção das colónias, de modo a poder reivindicar a sua soberania na Conferência de Paz que se adivinhava com o final da guerra;
  • A necessidade de afirmar o prestígio e a influência diplomática do Estado Republicano bem como a sua legitimação no seio das potências europeias, maioritariamente monárquicas;
  • A crença de que era imperativo entrar na guerra pelo progresso nacional, ao lado das democracias;
  • Compromisso de aliança com a Inglaterra, tradicional aliada de Portugal, e afirmação de autonomia de Portugal nas questões bilaterais com a Inglaterra;
  • Travar a influência alemã nas populações indígenas no Sul de Angola e Norte de Moçambique e evitar insurreições locais contra o domínio português;
  • Defender as colónias de uma possível penetração militar alemã que, de resto, se estava a materializar através de escaramuças fronteiriças desde o início da guerra;
  • A necessidade, por parte do Partido Democrático de Afonso Costa, então no poder, de afirmar o seu poder político, ao envolver o país num esforço colectivo de guerra, tanto em relação à oposição republicana quanto em relação às influências monárquicas no exílio.

No entanto, o principal oponente à entrada de Portugal na Grande Guerra foi a Inglaterra.

 
CRONOLOGIA

Prisioneiros de guerra portugueses (1918)

1916 – Em Fevereiro de 1916, a Inglaterra pediu ao Estado português o apresamento de todos os navios alemães e austro-húngaros que estavam ancorados na costa portuguesa. Portugal apresou um total de 72 navios alemães, tendo cedido 65% destes para uso da Inglaterra, mantendo os restantes 35% do total para uso português. Esta atitude justificou a declaração oficial de guerra a Portugal pela Alemanha, a 9 de Março de 1916 (apesar dos combates em África desde 1914).

1917–1918 – Em 1917, as primeiras tropas portuguesas, do Corpo Expedicionário Português (CEP) seguiam para a guerra na Europa em direcção à Flandres. Portugal envolveu-se, depois, em combates na França. Neste esforço de guerra, chegaram a estar mobilizados quase 200 mil homens. As perdas atingiram quase 10 mil mortos e milhares de feridos, além dos custos económicos e sociais gravemente superiores à capacidade nacional. Os objectivos que levaram os responsáveis políticos portugueses a entrar na guerra saíram gorados na sua totalidade. A unidade nacional não seria conseguida por este meio e a instabilidade política acentuar-se-ia até à queda do regime democrático em 1926.

 
A GUERRA NAS COLÓNIAS PORTUGUESAS

Em Angola – Sob o comando de Alves Roçadas, foi enviado para Angola uma força expedicionária de 1600 homens, em Outubro de 1914.

Na fronteira Sul, após um ataque alemão ao posto fronteiriço de Cuangar, as tropas portuguesas tentaram expulsar os alemães do território mas, em Dezembro de 1914, foram derrotadas em Naulila (Desastre de Naulila), tendo que recuar para Humbe. As tropas alemãs também retiraram mas, em simultâneo, as populações locais acabaram por se revoltar contra a soberania portuguesa. O governo português, devido à revolta local, teve de enviar da Metrópole mais 397 oficiais e 12.043 praças e de Moçambique enviou mais 2 companhias landins (grupo étnico do Sul de Moçambique).

Em Moçambique (O Território do Triângulo de Quionga) – O Triângulo de Quionga, em Alemão “Kionga”, foi um pequeno território na fronteira entre a África Oriental Alemã (integrada na actual Tanzânia) e a então colónia Portuguesa de Moçambique, hoje República de Moçambique.

Metralhadora e guarnição portuguesa junto ao Rio Rovuma durante a Grande Guerra (1917)

O ressurgimento de Moçambique, estagnado durante séculos, foi marcado em 1891, pela fixação das fronteiras da Colónia. Defrontado a Norte com a nascente e ambiciosa colónia Alemã, a Alemanha assinava, com poucos dias de intervalo, dois tratados, onde reconhecia fronteiras diferentes na foz do Rio Rovuma.

Arrastaram-se demoradas negociações diplomáticas até que, em 1894, o Governador da África Oriental Alemã alvorou a bandeira do seu país na baía de Quionga, única povoação de importância, no chamado triângulo de Quionga, que tinha uma área aproximada de 450 km² de terrenos valiosos para culturas de palmares e arrozais, valorizada por abranger a margem Sul da foz do Rovuma, ficando a entrada do grande rio fronteiriço na mão dos Alemães.

Os Alemães estabeleceram este posto avançado a Sul do Rio Rovuma, com cerca de 4.000 habitantes (1910), dando à Alemanha o controlo efectivo da sua foz até ao Oceano Índico.

A declaração de guerra da Alemanha a Portugal foi conhecida em Moçambique a 9 de Março de 1916. Após a declaração de guerra, as forças Portuguesas, comandadas pelo Tenente-Coronel José Moura Mendes voltam a reocupar o Triângulo de Quionga. Na véspera da chegada das forças Portuguesas os Alemães tinham abandonado Quionga e passado para a margem Norte do Rovuma.

José Luís de Moura Mendes (1861-1918), Tenente-Coronel

Após várias ofensivas falhadas perpetradas pelas forças Portuguesas contra as forças invasoras Alemãs, apenas o Armistício de Compiègne, assinado a 11 de Novembro de 1918 entre os Aliados e a Alemanha, veio encerrar as hostilidades Alemãs e dar por terminada a Grande Guerra.

A campanha Portuguesa em Moçambique foi uma parcela considerável no esforço dos Aliados para a conquista da África Oriental Alemã, embora circunstâncias desfavoráveis tivessem diminuído o brilho das primeiras operações levada a efeito em território alemão por tropas improvisadas, e tivessem prejudicado a eficiência das tropas indígenas, precipitadamente recrutadas e instruídas, com graduados, em grande número, sem experiência colonial.

Após a Grande Guerra, o Tratado de Versalhes definiu novamente a fronteira ao longo do Rio Rovuma. Os Aliados reconheceram Portugal como legítimo proprietário do território do Triângulo de Quionga, vindo a ser reintegrado oficialmente em Moçambique, a 25 de Setembro de 1919.

Com a independência de Moçambique, a 25 de Junho de 1975, o Triângulo de Quionga permaneceu sob o seu domínio, como parte integrante da província do Cabo Delgado.